jueves, 12 de abril de 2012

O Nacionalismo, ideologias passadas e a crise do Estado de Bem Estar

Escrevo sobre este tema em português porque neste momento falo muito mais como uma estrangeira do que como uma jurista.

Faz alguns dias que vi pelo canal EuroNews uma reportagem (para ver, clique aqui) sobre algo que eu, particularmente, nunca dei muita importancia, mas talvez em 1, 2 anos, seja uma pauta a discutir ou lamentar: é a questao da evoluçao (ou regresso) de ideias radicais em tempos de crise.

A Europa é muito conhecida por ter tido muitos regimes ditatoriais. Foram vários e de muitas características, mas que se fundamentavam quase que nos mesmos pilares, a "pureza" da raça, a rejeiçao de outras,  fanatismo, enfim. É um leque diverso que no fundo, eu nao tenho muito claro.

Visitei muitos países que sofreram diretamente com esses eventos, e muitos deles me marcaram justamente por mostrar-me que nossos livros de história nao nos contam tudo. Alemanha maltratou o mundo com Hitler, mas a divisao do país em oriental-ocidental doeu fundo em muitos dos alemaes, existindo feridas até os dias de hoje. Hungria, Romenia e Bulgária também sofreram com Hitler, mas o comunismo deixou sua marca a ferro e fogo, talvez ainda mais profundas.

E o que isso tem a ver com a crise econômica?

Desde que eu cheguei na Espanha para estudar (já faz 4 anos), muitos partidos políticos e personalidades políticas reproduzem idéias bastante radicais contra os estrangeiros. Campanhas como "a ovelha negra ou se adapta ou se vai" é comum e inclusive aqui em Salamanca, quando tem eventos com algum representante destes partidos, a universidade emite um pequeno alerta para os alunos latinos, para que estes, se puderem, nao saiam de casa, para evitar conflito.

Eu particularmente nunca sofri discriminaçao direta, mas já vi muitos latinos que sim. Ou mesmo o clássico "cigano", que eu até hoje nao sei identificar um só de olhar, mas os espanhóis e europeus em geral sim.
Em tempos de crise se nota muito mais a falência do modelo de Estado de Bem Estar. Já nao é mais possível que o Estado conceda aos seus cidadaos tudo o que se necesita. Trata-se basicamente do principio da reserva do possível, ou seja, que seja feito até onde seja possível. Eu nao gostava desse principio quando eu estudava no Brasil, acreditava que ela diminuía muito os direitos fundamentais. Porém, agora com meus olhos eu vejo que, por mais que eu nao goste, esse principio está presente para quem quiser ver.

Diante disto, se antes os estrangeiros eram vistos como aqueles que faziam trabalhos que europeu jamais faria, as coisas mudaram. Agora sao vistos como "ladroes" de emprego, dos beneficios públicos, a classe marginal da sociedade, os responsaveis pelo aumento da violência, do desvio da cultura local. Estrangeiro (guardados os estereotipos, que é outro assunto) já nao é mais tao bem vindo.
E justamente quando se planta esta ideia em tempos de crise que se gera um alerta laranja sobre a possibilidade de um novo surgimento de regimes antidemocráticos. Nao muito longe, basta olhar o que passou nas últimas eleiçoes na Hungría, na Holanda, o que Sarkozy fala durante sua campaña eleitoral, na Suiça... a ovelha negra tem que estar fora.

Nao é difícil encontrar exemplos de pessoas que apoiam estas ideias, e era sobre isso que a reportagem tratava. Eram pessoas locais, holandeses, belgas, suiços, austríacos. Gente que muito provavelmente viveu na época das grandes catástrofes, mas que agora começa a mudar de ideia outra vez.

Como eu disse, eu nunca fui atingida por isso. Além disso (e verdade seja dita) minhas origens italo-germânicas me facilitaram a vida aqui. Contudo, em tempos de globalizaçao e de "Uniao" europeia, fico um pouco triste de presenciar esse lento - mas constante - levante dessas posiçoes políticas.

O pior: nao acho que seja tao improvavel assim que um regime totalitarista surja outra vez... A xenofobia está presente. Basta abrir os olhos.

PS: Sobre o tema, recomendo fortemente o filme "Die Welle" (A onda em português ou The wave em inglês). Trata exatamente sobre essa "impossibilidade" de retorno ao passado.


Será que se pode acreditar nessa afirmaçao?

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